Todo ano a situação se repete: chega o verão e faltam nas lojas ar condicionados, splits, geladeiras, freezers, balcões frigoríficos, etc. . Necessitando de tais aparelhos o consumidor acaba pagando mais caro, quando os encontra.
Em 2013, essa situação é ainda mais acentuada devido à manutenção da alíquota reduzida do IPI que provocou uma corrida às lojas.
As lojas de varejo bem que tentam colocar novos pedidos mais os fabricantes de aparelhos demoram, em média, um mês e meio para faturá-los. Somado ao tempo do transporte, da colocação do pedido a ter os aparelhos disponíveis para pronta entrega, uma loja pode esperar até dois meses.
O aparente paradoxo é que lojas, fabricantes e consumidores perdem mas a situação persiste. Explicações sempre aparecem. A atual é que : “O governo incentivou o consumo, mas a indústria não estava preparada para o aumento da demanda”, diz Leandro Arruda, gerente de compras das Lojas Colombo. No ano passado a “explicação” para a falta de aparelhos estava relacionada ao aumento do consumo devido ao forte calor…
Mas porque as indústrias não aumentam a capacidade de produção de aparelhos de refrigeração? Uma possível explicação parece estar relacionada à falta de confiança no cenário econômico brasileiro e que os fabricantes não investem na expansão da linha de produção com receio de estarmos passando por um período de bolha de consumo. Indicadores, tanto para justificar quanto para contradizer tal explicação, não faltam: aumento da inadimplência, comprometimento de renda, alto nível de emprego, etc.
Outra explicação para a falta de investimento da indústria de refrigeração é que a taxação dos produtos importados restringe a concorrência, permitindo que os fabricantes nacionais pouco invistam no aumento da produção e da produtividade. O caso da Whirlpool é esclarecedor: dona das marcas Brastemp, Consul e KitchenAid, e líder de vendas, teve crescimento de vendas de cerca de 15% em 2012 dos produtos da empresa com redução do IPI; já os aparelhos de ar condicionado split, fecharam o ano sem crescimento. O segundo semestre foi bom, mas o primeiro, quando a indústria nacional sofria concorrência acirrada do produto asiático, foi muito ruim.
Já o varejo trabalha com margens bem apertadas: os grandes varejistas até poderiam investir em estoque mas, com certeza, esse custo adicional seria (é) repassado aos consumidores.
Armando Ennes do Valle Júnior, vice-presidente de Relações Institucionais da Whirlpool para a América Latina, ao observar que grandes varejistas que se programaram e anteciparam pedidos não estão tendo problemas agora, de certa forma confirma isso; ao também afirmar que “(…)têm mais problemas aqueles pequenos varejistas que se depararam com uma demanda também não esperada por eles, porque agora a indústria não consegue responder na velocidade que eles precisam”, vai novamente nessa direção.
No final das contas quem acaba penalizado é o consumidor que ou não encontra sua geladeira, ar condicionado, split, etc., nas lojas ou tem de pagar mais caro por ele.
Para piorar, o governo com o intuito de aumentar o crescimento econômico e garantir o emprego aumentou o IPI dos aparelhos de refrigeração importados. Embora a intenção fosse boa, o resultado parece ser o mesmo da nossa indústria automobilística, que mesmo descontados os altíssimos impostos brasileiros, os anos de protecionismo e benefícios fiscais, nos vende carros com preços muito mais caros do que os cobrados no exterior pelo mesmo modelo.
A indústria de refrigeração ano após ano brinda os consumidores brasileiros com falta de aparelhos, preços muito mais caros do que os cobrado por modelos de mesma capacidade de refrigeração no exterior e não investe na ampliação da capacidade de produção.
Quando o preço dos importados fica mais barato, a indústria ao invés de procurar se tornar mais competitiva corre em direção aos conhecidos de Brasília para se defender. Até quando isso, Dilma?
Fonte: Estadão, 28/01/2013