Sistemas alternativos de energia – aquecimento solar
Revista Abrava. Edição 258. Julho de 2008
Eles seguem em tendência de crescimento, impulsionados por ações governamentais, aliadas ao fortalecimento das demandas de mercado.
Fontes renováveis têm cerca de 45% de participação na matriz energética nacional, segundo o IBGE. Dentre a diversidade de alternativas existentes em energias limpas traçamos um breve panorama de três: eólica, solar térmica e fotovoltaica. Alguns desses sistemas ainda engatinham no Brasil, atrelados a iniciativas estatais, mas todos apresentam boas perspectivas no longo prazo, A participação das empresas de HVC-R se dá de forma mais consolidada em alguns segmentos e, de maneira mais discreta, em outros. Em linhas gerais, o setor faz parte de um conjunto que envolve governo, sociedade e vários segmentos de mercado na busca por soluções sustentáveis, rumo à redução do consumo energético no País.
Os estados do Nordeste vêm liderando a implantação dos novos sistemas de energias renováveis, informa a Associação Brasileira das Empresas de Energia Renováveis (ABEER). Nos próximos anos, o Norte do País deverá apresentar um grande aumento na demanda, parte em função do programa Luz para Todos, que faz uso de painéis fotovoltaicos. “Considerando um cenário de cinco anos, o desenvolvimento acontecerá em outras regiões de forma igualitária, com o Sul se destacando em energia eólica, o Sudeste com aquecimento solar, o Centro-oeste e Nordeste com solar fotovoltaica, aquecimento e eólica, e o Norte também com solar”, registra o presidente da entidade, Fernando Cunha.
A tendência é a ampliação desse mercado, com a continuidade das ações empreendidas pelo governo federal, aliada às necessidades de empresas privadas do segmento de energia e “à forte demanda proveniente da regulamentação dos sistemas conectados à rede, permitindo a geração de energia por empresas e pessoas físicas com a possível venda do excedente gerado”, completa. Uma das vantagens da utilização de fontes alternativas é a geração de energia a partir da própria localidade onde será consumida. “Isso permite adotar soluções técnicas adequadas a cada situação”, aponta Cunha. Nesse contexto, ele menciona a utilização de sistemas híbridos (solar-eólica, solar-diesel, eólica-diesel, solar-eólica-bio-combustíveis etc.). “A Amazônia é o Estado onde estes sistemas são adotados com maior frequência”, diz.
Amplo e consolidado, o mercado de aquecimento voltado à energia solar cresce tanto pela conscientização ambiental, quanto pelo benefício real que proporciona, “com retorno do investimento em cerca de dois ou três anos”, diz o engenheiro Mário Dias, da Solar Terra, especializada em projetos para segmento de energias não convencionais. Já os sistemas de energia solar fotovoltaica têm mercado mais limitado, bastante voltado aos projetos especializados em pré-eletrificação rural, bombeamento de água, sistemas industriais “e, em escala muito menor, projetos com perfil determinantemente sustentável como elemento construtivo”, ele aponta. Instalados principalmente no Nordeste e Sul do País, sistemas eólicos devem fortalecer sua parcela de participação, que por enquanto é pouco significativa no cenário nacional, gerando — ainda que de forma muito indireta – alguma demanda para o setor de ventilação.
Há mais de 500 mil consumidores na Amazônia
a para serem atendidos pela energia solar fotovoltaica
Painéis fotovoltaicos
Em algumas regiões do Brasil, a energia solar fotovoltaica vem se tornando a melhor solução, tanto sob o ponto de vista técnico quanto econômico. São lugares que apresentam baixo consumo, grande dispersão de usuários e dificuldade de acesso. Nas comunidades isoladas, painéis solares fotovoltaicos podem ser usados de forma individual, quando distante da rede elétrica, ou de forma híbrida, visando economizar diesel, segundo informações do Ministério de Minas e Energia. “No mundo, esta energia está sendo utilizada com diferentes modelos, em geral considerando o permitido em cada país, cerca de 30% a 40%. Estima-se que na Europa, em 2030, 50% da energia seja renovável, sendo 25% solar”, comenta o presidente da Kyocera, fabricante de módulos solares fotovoltaicos, António Granadeiro.
No Brasil, o Programa Luz para Todos já levou acesso à energia elétrica a mais de um milhão e meio de famílias. O PRODEEM (Programa para o Desenvolvimento da Energia nos Estados e Municípios) também utiliza a tecnologia solar fotovoltaica, com cerca de 5 MW instalados, oriundos de mais de cinco mil sistemas, que deverão ser 7 totalmente revitalizados ou removidos para o Programa Luz para Todos dezembro deste ano. Ainda como parte do Luz para Todos, a Coelba instalou outros oito mil sistemas no Estado da Bahia.
Segundo o MME, há mais de 500 mil consumidores a serem atendidos na Amazônia Legal, sendo que cerca de 6.800 localidades encontram-se isoladas e parte dessas localidades pode ser atendida com energia solar fotovoltaica ou com esta tecnologia associada à biomassa. A Kyocera tem sido a única fornecedora de sistemas SIGFI (Sistema Individual de Geração de Energia Elétrica com Fonte Intermitente) dentro do Luz para Todos. Na maioria dos casos, a empresa também é a responsável pela instalação dos equipamentos. A despeito das ações governamentais, existe um mercado fotovoltaico privado que adquire soluções específicas para suas necessidades e que está distribuído em todo o território nacional, afirma Mário Dias, da Solar Terra. “Obviamente, com volumes bem menos significantes que o mercado estatal”, ressalta.
Ele comenta um projeto de energia solar fotovoltaica implantado em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. O sistema foi instalado na sede da Multivida, entidade onde são elaborados complementos alimentares, distribuídos gratuitamente em escolas públicas. Lá foi instalado o primeiro sistema de energia solar fotovoltaico conectado à rede no Brasil, a partir de uma iniciativa privada, diz o engenheiro. “O sistema é capaz de gerar 600kWh/mês médios de energia, que são integralmente utiliza dos para as necessidades da sede, tornando-a praticamente autossustentável em energia elétrica”, destaca. Para a gerente de vendas da Conergy, Cátia Stoyan, o setor de HVAC-R pode contribuir para o aumento da utilização de sistemas fotovoltaicos “através da divulgação dessa tecnologia”. A empresa, que oferece todo serviço de engenharia, projeto e instalação, distribui soluções completas em energia fotovoltaica, com módulos solares, controladores de carga, baterias, inversores e materiais para instalação.
Usinas eólicas
A energia gerada por turbinas eólicas responde por menos de l % na demanda total do País. A representatividade ainda é pequena, mas deve crescer nos próximos anos, graças ao potencial eólico do Brasil, que é de cerca de 145 GW. “Em 2009, haverá um parque implantado de aproximadamente 1200 MW. Hoje, há 250 MW. O Nordeste é a região mais vigorosa em presença e qualidade dos ventos, seguido do Sul. Mas há ventos em todo o País, mesmo em Minas Gerais, longe do mar”, explica o diretor executivo da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEE), Paulo Ludmer.
Para fomentar o desenvolvimento de energia eólica, de biomassa e de pequenas centrais hidrelétricas, o governo federal instituiu o Proinfra, em 2002. A primeira fase do programa, 2008, tem contratos de comercialização de projetos que, somados, totalizam 3300 MW, atendendo às três tecnologias. “Desde a introdução do Proinfra, o Brasil tem sido o País mais promissor em energia eólica na América Latina, com contratos de venda de 1423 MW”, afirma a diretora executiva do Centro Brasileiro de Energia Eólica (CBEE), Thaisa Alcoforado.
O gerente de Desenvolvimento de Negócios da Wobben, Eduardo Lopes, lembra que o mercado eólico mundial tem crescido cerca de 25% ao ano. A Wobben fabrica turbinas eólicas de grande porte, com instalações espalhadas em cerca de 40 países.
No Brasil, há vários fabricantes de equipamentos para energia eólica, bem como de pequenos componentes. A participação do setor de ventilação é pequena, informa o CBEE. “A possibilidade (de participação) seria na utilização de collers de resfriamento em casos muito específicos, para controlar a temperatura no interior da nacele (compartimento onde ficam todos os componentes da turbina, na torre)”. No entanto, de acordo com a entidade, essa não é uma prática muito usual.
Já o gestor de projetos da multinacional argentina Impsa, Jorge Andri, explica que os aero geradores fabricados pelo grupo possuem ventilação forçada. “Cada equipamento contém quatro ventiladores que entram em funcionamento à medida que o equipamento vai esquentando”, explica. A companhia está investindo R$ 520 milhões na instalação de três parques eólicos no Ceará. A potência total instalada dos parques será de 100MW. Para 2009 está programada a construção de dez parques eólicos no estado de Santa Catarina, com potência instalada de 217 MW.
Solar térmica
No intuito de reduzir a emissão de poluentes e o uso de combustíveis fósseis, um quarto do compromisso europeu de redução da emissão de CO2 será obtido somente com o uso dos aquecedores solares de água, diz o diretor executivo do Departamento Nacional de Aquecimento Solar (Dasol) da Abrava, Carlos Faria, o Café. No Brasil, apesar do crescimento alcançado nos últimos anos, ainda há muito que caminhar em relação a outros países. Aqui, o aquecimento solar é utilizado em 69% no setor residencial, 20% no aquecimento solar de piscinas, 9% em estabelecimentos comerciais – como hotéis, hospitais e lavanderias — e 2% no setor industrial. “Neste último, a grande maioria da água utilizada é para fins sanitários e algumas poucas obras para aquecimento de água em processos industriais. De qualquer forma, a tecnologia encontra-se em pleno desenvolvimento em todos esses setores”, afirma Café.
Muitos dos fabricantes de coletores solares e outros componentes também elaboram projetos e fazem a instalação dos equipamentos. “Uma boa parte de nosso negócio é voltado ao desenvolvimento de projetos, mantemos uma equipe de atendimento, assessoria e assistência técnica para esse fim”, diz o gerente Comercial e de Marketing da Enalter, Cristiano German. A empresa vem acompanhando a demanda desse mercado, que cresce cerca de 30% ao ano e que deverá registrar aumento acima dos 20% nos próximos quatro anos, como informa o diretor do Dasol, confiante na manutenção do ritmo acelerado de crescimento da energia solar no Brasil.
Para German, trata-se de um segmento considerável, mas com pouca oferta especializada em instalação. “O desenvolvimento de mão-de-obra para instalação e manutenção ainda é restrito. Entendo que o programa Qualisol será uma grande ferramenta de desenvolvimento desta mão-de-obra”, comenta.
A Solar Minas teve um crescimento de 88% em 2007, com expectativa de crescimento mínimo de 30% para este ano. A empresa instala grandes obras em todo País. “Para sistemas pequenos, já possuímos alguns tipos de projetos de instalação prontos. Para grandes obras, ou terceirizamos o projeto ou então elaboramos com nossa equipe técnica”, explica o diretor Comercial, Ernesto Nery Serafim.
O fortalecimento desse setor vem rendendo à Tuma um crescimento anual de 35%. A expectativa para 2008 é chegar aos 40%. “A Tuma faz o projeto. Para clientes residenciais, o dimensionamento é feito pelas revendas credenciadas. Projetos mais complexos são elaborados pelo departamento técnico da empresa”, esclarece o gerente Comercial, Frederico Dantas.
A Transsen destaca as regiões Sudeste e Sul como as principais áreas de atuação e reporta um crescimento de 200% em volume de negócios nos últimos cinco anos. “Em 2006 crescemos 20% e outros 30% em 2007. O crescimento para 2008 está estimado entre 20% e 30%”, conta o gerente Técnico, Leonardo Chamone Cardoso.
O engenheiro Edson Tito, diretor da Datum, lembra um projeto interessante em sistema de energia solar térmica, implantado no Observatório Astrofísico do CNPq, em Brasópolis (MG) onde a empresa também foi responsável pelo sistema de ar-condicionado e ventilação mecânica. Devido à elevada altitude (1864m), o local é muito frio, contudo suas características geográficas também o favorecem com um alto índice de insolação. “Por estas razões, elaboramos um sistema de aquecimento ambiental utilizando energia solar”, conta.
Para ele, a procura por esses projetos ainda está longe do ideal, “percebemos que as pessoas têm perguntado mais por curiosidade e para se informar, mas ainda não demonstram muito interesse em aplicar em suas obras”, diz.
Na avaliação do diretor da Full Gauge, António Gobbi, o segmento de aquecimento solar vive um momento especialmente positivo, desenvolvendo “o que há de melhor” em equipamentos de ponta. “Estamos vendo a união de forças de autoridades e da sociedade em prol do meio ambiente. E como fabricamos o ‘coração’ dos sistemas, que são os CDT’s, estamos acompanhando essa expansão, vislumbrando um cenário cada vez melhor”, afirma.